Como já foi comentado aqui no nosso Botequim, as ações para conter a crise financeira internacional tem aberto algumas questões no tocante a governação econômica atual, nomeadamente as estruturas financeiras criadas no pós 2ª GM e sua capacidade de responder às crises do século XXI. Desde o início da crise financeira internacional que tanto os mercados financeiros quanto os próprios estados vêem buscando alternativas na tentativa de estancá-la. Nos EUA isso se materializou através da injecção de US$ 700 bilhões, assim como na Europa através de uma acção conjunta através da Comissão Europeia, um resgate de cerca de €2 triliões. Na América do Sul também já pode ser observadas mobilizações para discussão e ação face a crise no âmbito do Mercosul.
Semana passada ficou acordada, para o fim do ano, uma reunião para a discussão de reformas no sistema financeiro atual. Esta foi discutida brevemente em Camp David em um encontro entre Bush, Sarkozy e Manuel Barroso. A visão francesa é de que existe uma oportunidade para criar-se um “novo capitalismo”, livre das práticas passadas. Com base na reunião de Bretton Woods que formulou a nova ordem financeira internacional depois da segunda Guerra Mundial Sarkozy ainda sugeriu que este novo sistema financeiro internacional fosse cunhado na sede nas Nações Unidas em Nova York.
Apesar da necessidade de intervenção estatal e de uma reconfiguração urgente do sistema financeiro internacional, a forma pela qual esse processo deve se materializar está a gerar alguma inquietude e divergências no próprio seio dos estados-membros europeus. A França gostaria de ver a criação de um fundo soberano com o intuito de injetar Euros na economia europeia e segundo suas palavras “proteger campeões famosos da indústria europeia”. Sarkozy está se dirigindo diretamente aos fundos soberanos árabes, que devido à alta recente no preço do petróleo, estão às compras de empresas ocidentais.
A posição francesa é apoiada por Manuel Barroso e pela Itália, onde já possui legislação no parlamento com o intuito de limitar a ação de tais fundos estrangeiros. Estas posições são contrabalançadas pela Alemanha, onde tal ideia é vista como muita discordância e pela Espanha, que vem muito fortemente tentando atrair este tipo de capital externo.
Na tentativa de responder o que virá à frente, parece que o mundo está passando por um momento em que a intervenção do estado na economia veio para ficar e tal discussão acabou. Posição esse endossada e explanada por exemplo pelo historiador britânico Eric Hobsbawm, que acredita que estamos perante um separador de águas, comparando a atual crise financeira com o momento da queda do mundo soviético.
Fiquemos atentos ao desenrolar dos acontecimentos…
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